Por: Marina Mello
Nova rota da seda
O termo “Rota da Seda” refere-se a rotas que interligavam impérios no, hoje, mundo antigo, conectando diversos extremos da Ásia-Europa ao império Chinês, Romano e Cuchana. Essas rotas foram notórias para o desenvolvimento do comércio entre os impérios e a noção de comércio exterior, consagrando uma interligação e interdependência complexa inédita para a humanidade. O início desta grande rota comercial se deu entre cidades no Império chinês e pequenas cidades asiáticas, fora do império e, aos poucos, sua influência foi crescendo até tornar-se um dos grandes símbolos comerciais da era antiga, sendo um orgulho da cultura chinesa até os dias atuais.
Desde 2013 a China, simultâneo ao grande crescimento econômico do país, iniciou um projeto de criar a “Nova Rota da Seda”, também conhecido como “One Belt One Road Policy”, que recebe esse nome como uma homenagem à Rota da Seda, como um símbolo de prestígio chinês. O projeto consiste em estimular um cinturão econômico em países parceiros da China, por meio de investimento de capital, infraestrutura e transporte (portos, rodovias, e ferrovias), junto ao estabelecimento de trocas econômicas intensas com os países envolvidos. Não é um acordo ou tratado único, mas sim um conjunto de acordos bilaterais.
A Nova Rota da Seda representa, além do desenvolvimento econômico, uma grande jogada política de influência nos países que fazem parte da Nova Rota, assim como nos termos realistas das relações internacionais, estabelecendo e ampliando sua esfera de influência, o que é um passo importante para consolidar e diversificar o poder chinês, como país que vem crescendo rapidamente sua economia. Um termo amplamente utilizado em estudos de Economia Política é friendshoring, ou seja, fazer negócios com países politicamente aliados, o que pode otimizar produções, trocas de conhecimento e é uma lógica utilizada no projeto chinês.
Os primeiros países a assinarem tais acordos comerciais bilaterais com a China foram países vizinhos, tanto da Ásia Central, quanto do Sudeste Asiático, ou seja, países que já tinham forte ligação econômica, política e estratégica. O projeto tem expandido abrangentemente e, nos dados mais recentes de 2023, 148 países já assinaram um acordo chamado de memorandum of understanding, um acordo não vinculante que demonstra ciência e interesse de participação no projeto, representando um número espantoso que manifesta o crescimento de influência da China no marco de 10 anos do início do projeto.
Impacto da nova rota da seda no brasil
No dia 15 de agosto de 2023 completou-se 49 anos de relações comerciais entre Brasil e China. Neste meio tempo, a China transformou a sua economia, hoje sendo a segunda maior economia global e o maior parceiro comercial do Brasil, consolidando o maior destino das exportações brasileiras. Simultâneo ao crescimento econômico acelerado da China, o país passou a investir em diversos setores no Brasil, seja comprando ações de empresas, tanto estatais quanto privadas, com um grande destaque a 2013, no ano que deu-se início política da Nova Rota da Seda, simultâneo aos escândalos da Lava-Jato no Brasil, que demonstrava um campo de oportunidade de alto risco para o investimento estrangeiro.
Os setores com maiores investimentos foram eletricidade - tanto diretamente, com as empresas estatais chinesas sendo a empresa abastecedora da região, quanto indiretamente, grande investimento no brasil, comprando muitas ações das estatais brasileiras - e investimento em petróleo, com o destaque nas compras do recém descoberto pré-sal brasileiro, além da grande troca entre setores privados, como é o caso da empresa Vale S.A., que também consta com muito apoio chinês.
Apesar de todo o investimento e relação entre os países, o Brasil ainda não é signatário do acordo memorandum of understanding, citado anteriormente, e não possui relações bilaterais explícitas sobre fazer parte da Nova Rota da China. Aproximar-se da China é político, aproximar-se da esfera de influência de um país se estabelecendo como uma grande potência, ainda mais para um país latinoamericano, com muitas trocas com os Estados Unidos, é uma decisão complexa. Ainda que tenha todos os benefícios comerciais e econômicos, num cenário de alta polarização política como a vivida nos últimos anos no Brasil, é uma tendência que a esquerda apoie mais a aproximação dos países, algo que vem acontecendo ainda mais do que antes no governo Lula 3, junto a uma pressão chinesa para assinar. Assim, o que ocorrerá ao longo do mandato sobre a adesão a esse acordo ainda é inesperado e divide opiniões, sendo argumentado, por exemplo, se é válido oficializar tamanha relação com a China, em períodos de alta rivalidade com os Estados Unidos.
Impacto na internacionalização da sua empresa?
Ainda que existam as incertezas sobre a posição do Brasil no grande projeto da Nova Rota da Seda da China, a situação atual entre os países pode significar muitas oportunidades para internacionalizar o seu negócio, seja em busca de investidores, seja como uma opção para exportar, visto que, mesmo com o empecilho da distância, é um grande mercado consumidor de produtos brasileiros. A Expori Jr. FGV pode te ajudar a descobrir seu destino ideal com os serviços de Análise de Tendências, de Mercado, Concorrencial e Lista de Compradores.
Bibliografia
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Negociada por Lula, adesão brasileira à nova Rota da Seda chinesa divide opiniões. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/economia/negociada-por-lula-adesao-brasileira-a-nova-rota-da-seda-chinesa-divide-opinioes/>.
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