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Boom das commodities e exportações brasileiras: qual a relação entre eles?

Por: Laura Condé


Contexto:


Existem diversos fatores que influenciam o nível de exportação de um determinado país em um certo período de tempo. Dentre eles, está o fenômeno conhecido por “boom das commodities”. Em meio a um recente “boom” e o retorno de Lula ao poder — presidente que desfrutou desse fenômeno em seus 2 governos anteriores —, o conceito de “boom de commodities” volta a ganhar relevância nas pautas comerciais.


O que são commodities?


Primordialmente, ‘commodity’ traduz-se como mercadoria. Porém, a palavra é comumente utilizada para referir-se a mercadorias de produtos básicos de matéria-prima. Seus preços são definidos de acordo com a oferta e a demanda do período, sendo, assim, bastante voláteis. Ademais, de forma geral, podemos dizer que commodities são matérias-primas utilizadas para a manufatura de outros produtos.

As principais características desse tipo de mercadoria são: (1) qualidade e traços uniformes de produção; (2) pouca industrialização; (3) alto nível de comercialização; (4) produtos de origem primária e (5) ausência de diferenciação de marca. Desse modo, insumos agrícolas, como soja, café e trigo, óleo e minerais como minério de ferro e petróleo se encaixam na definição de commodities.

Historicamente, o Brasil é um dos principais exportadores de commodities do mundo. Assim, o crescimento econômico brasileiro está intrinsecamente ligado à produção desses bens. No caso brasileiros, as principais commodities exportadas são:

  1. Soja (US$ 35,24 bilhões por ano)

  2. Minério de Ferro (US$ 25,78 bilhões por ano)

  3. Petróleo bruto (US$ 19,61 bilhões por ano)

  4. Açúcar e melaço (US$ 8,75 bilhões por ano)

  5. Carne bovina (US$ 8,4 bilhões por ano)


O que é o boom das commodities?


O boom das commodities — também conhecido por superciclo de commodities — é marcado por um período onde há um forte crescimento nos preços de uma grande parte das matérias-primas.

Segundo os economistas Raúl Prebisch e Hans Singer, tal fenômeno permite romper com uma tendência histórica em que há a diminuição dos preços das commodities em relação ao preço das manufaturas — o que eles chamam deterioração dos termos de troca. Assim, o boom entre 2000 e 2014 e o crescimento dos preços das matérias-primas, de acordo com eles, permitiram recuperar várias décadas de deterioração relativa do preço das commodities em relação às manufaturas.


Como o preço das commodities influenciam o dia a dia das pessoas?


As commodities agrícolas possuem um grande peso na produção brasileira, influenciando diretamente a economia do país e o bolso dos consumidores. Os preços das commodities seguem a ideia de oferta e demanda, isto é, por um lado, quando a demanda está em alta, o preço das commodities aumenta e os produtores ganham mais. Por outro lado, quando a demanda está baixa, o preço desses produtos é desvalorizado, prejudicando os produtores os quais precisam reduzir seus valores internamente para poder revender seus produtos.

Ademais, quando a cotação de um produto sobe internacionalmente, é esperado que o preço interno também suba, uma vez que é mais provável que quem produza determinado produto prefira exportar a vender para o mercado interno.

Finalmente, é importante destacar que as commodities são voláteis, assim, sofrendo constantes oscilações nos preços, o que pode prejudicar a produção industrial. Devido a essas variações, os produtos feitos com essas matérias-primas tornam-se mais caros. Isso, por sua vez, faz com que a parcela mais pobre da população não tenha fácil acesso a esses bens.


O Boom do início do século


O boom das commodities do início do século ocorreu durante os anos de 2000 e 2014. A causa principal que motivou tal fenômeno foi a demanda crescente de algumas economias emergentes, em especial, da China. Isso se decorreu pois esses países passavam por um processo de urbanização e crescimento acelerado, fazendo com que as commodities (minério de ferro, petróleo, grãos e assim por diante) utilizadas nas indústrias para fabricação dos mais diversos produtos, de alimentos à infraestrutura, tivessem uma alta de preços histórica.

A América Latina, mesmo com altos níveis de desigualdade, foi a região que mais conseguiu se beneficiar dessa alta de preços, o que resultou em uma redução significativa da desigualdade intra-territorial desses países nas últimas décadas. A taxa de pobreza caiu de cerca de 27% para 12%, e a desigualdade recuou quase 11% em toda a América Latina entre 2000 e 2014.

No Brasil, o boom também trouxe diversos efeitos positivos na economia, dada a sua posição na cadeia de comércio global como um país exportador de commodities. Esse fenômeno é tido como um dos principais responsáveis pelo grande crescimento econômico durante os dois primeiros governos Lula. Foi nesse período que o país vivenciou um avanço nos índices de desenvolvimento, bem como uma queda na desigualdade econômica.

Por fim, devido a desaceleração do crescimento cinês, houve uma queda dos preços das commodities após a década de 2010. Isso, por sua vez, é dado por especialistas como um dos fatores que impulsionou a crise econômica do país em 2014.


O boom recente e suas implicações na economia brasileira


Diferentemente dos acontecimentos dos anos 2000, o aumento dos preços das commodities não beneficiou tanto a economia brasileira. Existem alguns motivos que explicam o porquê disso.

Em primeiro lugar, naquela época, a inflação estava se mantendo relativamente sob controle devido à aceleração do crescimento econômico e a queda do dólar. Assim, a renda nacional conseguiu aumentar de modo a derrubar a taxa de pobreza extrema de 27,5% da população em 2001 para 8,4% em 2014.

Em segundo lugar, desta vez, por conta da inflação global decorrente da pandemia e da alta do petróleo, a quantidade de produtos os quais o Brasil poderia importar com os dólares advindo das suas exportações diminui em relação aos termos de troca. Isso é, o Brasil precisa exportar mais se quiser manter ou aumentar seu nível de importação de determinados bens.

Finalmente, outra diferença fundamental em relação ao período anterior de boom é que, entre os anos de 2000 e 2013, o Brasil manteve suas contas públicas ajustadas para pagar juros da sua dívida pública. Com menor risco de insolvência, o país conseguiu atrair bilhões de dólares em investimento, levando a valorização do real em detrimento da moeda norte-americana. Logo, com o real mais forte no período, o Brasil pôde elevar seus termos de troca, importando mais bens — inclusive máquinas e equipamentos que permitiram um aumento na produção e na produtividade da economia brasileira.

Entretanto, embora os motivos destacados explicam parcialmente o fracasso do Brasil em aproveitar o boom recente, é importante destacar que o novo período de alta tem características diferentes do último boom das commodities dos anos 2000. Segundo o especialista da Garín Investimentos, Paschoal Paione, o novo ciclo por si só é mais fraco que o anterior. Ademais, ele pode ser classificado como um ciclo intersetorial, ou seja, diferentes insumos se beneficiaram do novo boom em períodos diferentes, tornando-o menos perceptível no curto prazo.



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